‘Queremos redefinir o uso das escolas públicas no país, levando a formação dos alunos muito além do ensino básico. Propomos uma mudança conceitual onde a educação não tenha apenas o papel de mera repassadora de conhecimentos em série, mas também a função de estimular a reflexão para formação de cidadãos com consciência crítica’, secretário de Articulação Institucional do Ministério da Cultura, Márcio Meira.
O Soulzouk é uma METODOLOGIA que tem como premissa básica o respeito ao princípios fundamentais da performance do movimento humano. Nosso processo evolutivo foi de fato o maior treinamento que o ser humano teve em toda sua existência, esse processo condicionou nosso desempenho motor para ter o menor gasto energético na execução de nossos movimentos, por isso nosso conceito de técnica refere-se a execução de movimentos de alto desempenho com o menor gasto energético possível, de acordo com a Biomecânica.
Há alguns anos percebemos que a visão de que o Soulzouk é um estilo está ultrapassada. Sim, tudo começou desta forma, mas nunca foi só isso. Nunca foi nossa intenção fazer com que os alunos saíssem dançando igual a nós, pelo contrário, desde o começo sempre encorajamos nossas alunos a desenvolver seus próprios estilos. O que hoje chamamos de Soulzouk é um conjunto de ferramentas para que o aluno possa SE desenvolver, para que ele entenda como funciona seu próprio corpo e quais são seus pontos fortes e quais os que necessitam de mais atenção e dedicação.
Luciana Guinle
28 de junho de 2012
Metodologia Soulzouk
"O que ainda não foi experimentado, não será compreendido ao ser lido".
-Isadora Duncan.
-Isadora Duncan.
Começamos a estudar didática de ensino e percebemos um sentimento de insatisfação. Não concordávamos com os métodos de ensino vigentes, que são, em maioria absoluta, os mesmo métodos de qualquer sala de aula de Universidades ou colégios, baseados na aula expositiva, na passividade do aluno, na sua capacidade de memorizar. O conjunto de movimentos que se repassa ao aluno representa um conteúdo selecionado para garantir sua entrada no próximo “nível”, ou por vezes, nem isso, pelo que o aluno passa anos no “básico”. Existe o pressuposto de que a competência é grandeza que cresce diretamente proporcional ao volume de informações recebidas, em detrimento do grau de profundidade imprescindível para transformar essas informações em conhecimentos significativos e, por conseguinte, duradouros.
“A aula tradicional dá ênfase à repetição e à memorização. O professor é a principal fonte de conhecimento com a sua prática de certezas, resposta única, seu saber acabado, descontextualizado. Os professores mostram uma aparência segura em relação aos conhecimentos que detêm e se sentem desconfortáveis quando não conseguem responder as perguntas dos seus alunos. Por outro lado, os alunos também já vêm para a aula com a noção de que o professor é conhecedor e detentor de conhecimentos prontos, ele não pode ter dúvidas”. (Cunha, 1998)
“... em diversos setores de nossos aprendizados na linha do tempo, fomos ensinados a aceitar e nos acostumar a receber as informações da maneira mais esmiuçada possível. E com a ação do poder verticalizado de nossos professores ficávamos sem chances para questionarmos o que aprendíamos, porque aprendíamos e como interagir com ele para novos aprendizados. Com estas limitações do ensino tradicional tatuamos em nossos corpos formas solidificadas de obediência (dependência) para aprender e por conseqüência, ensinar.” (Mychelle Dantas)
Aulas “lavagem cerebral” onde o aluno aprende somente o que é passado pelo professor, como sendo verdade absoluta. Não existem verdades absolutas! O que se pode existir vindo de um professor é: Até aqui EU tenho feito desta forma porque esta outra forma machuca/causa desconforto. Porém, o que machuca ou causa desconforto varia de pessoa a pessoa. A preocupação em sair ou não do tempo, também varia. É preciso o estabelecimento de limites e regras de convivência, sim, claro, mas dentro destes há uma grande margem de subjetivo.
O que se vê é um a grande massa de “filhotes”. Aprender tornou-se simplesmente a repetição daquilo que determinado professor faz. A derradeira verdade nisto é que hoje é possível determinar a “procedência” do aluno ao vê-lo dançar. Não se valoriza a criatividade, o desenvolvimento de novas técnicas, de novos talentos. O único talento valorizado é aquele que é capaz de persistir ao tempo e continuar repetindo tão e simplesmente aquilo que lhe foi ensinado. As mesmas técnicas, os mesmos passos, os mesmos charmes.
Mais ainda, o professor pensa que pode transferir conhecimentos para o aluno sem ter em conta quem ele é, de onde vem, o que já sabe, etc. A necessidade do uso de sapatilhas “muleka” para o forró, a exigência do uso de sapatos bicolores para a dança de salão ou da roupa social, a proibição do tênis, nada disto leva em consideração o CONTEXTO do aluno, seu modus vivendi.
Com o aluno que está iniciando, pode ser que ele ainda não tenha experimentado aquele universo e não pode experimentar até que aprenda a construí-lo, as coisas e as relações daquele universo ainda não são dele. Não se pode assustá-lo querendo trazê-lo a força.
No nosso entender, o professor precisa constantemente se perguntar sobre o que os seus alunos estão aprendendo, em que ponto não conseguem avançar, como entendem a orientação que recebem e devem usar as respostas recebidas a essas perguntas para avaliar e guiar sua próxima aula, seu método de ensino.
Esta concepção de ensino crítico-reflexivo demanda maior empenho por parte do professor, uma vez que exige maior organização, implica em muito mais trabalho porque enfoca o conhecimento, não a memorização, e o percebe como provisório e relativo, estimula a análise, a capacidade de compor e recompor dados, informações, argumentos, idéias, valoriza a curiosidade, o questionamento e entende a pesquisa como um instrumento do ensino.
"Construtivismo significa isto: a idéia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social.” Acervo cultural da Humanidade - Fernando Becker
Aplicando nossas crenças ao universo zoukeiro:
Hoje o público do zouk tornou-se completamente heterogêneo. Há os alunos de aprendem em academias de ginástica, aqueles que estão lá para outro motivo, porém querem expandir seus horizontes e fazer algo diferente. Há os que vão para uma academia de dança de salão e realmente desejam aprofundar seus conhecimentos e ainda mesmo dentro das academias de DS, os que querem dançar, mas apenas nos fins de semana, quando saem com os amigos. Há ainda aqueles que aprendem fazendo, pelo que conseguem “pegar” nos bailes. Antes, era possível “desprezar” os alunos fora das academias convencionais de dança... Hoje eles são um número tão grande, que têm, necessariamente, que fazer parte das estatísticas do público zoukeiro.
Porém, é preciso separar o joio do trigo! Cada um destes zoukeiros tem expectativas diferentes portanto suas aulas DEVEM ser diferenciadas.
Em conversas recorrentes temos escutado reclamações sobre o nível dos dançarinos ter caído vertiginosamente, sejam cavalheiros ou damas. O que não discordamos. Mas é fato também que é preciso tempo para formar um bom dançarino, tempo e investimento, seja ele do aluno ou do professor. E será que estamos sendo justos ao comparar o que antes era um punhado de gente que já dançava há séculos (ex-lambadeiros) migrando para um novo ritmo com os que estão entrando agora?
De qualquer forma, devemos todos fazer um mea culpa. Sim, porque a responsabilidade não é do aluno! Ele chega numa academia, seja ela de DS ou de ginástica, querendo aprender, com a mente sedenta e o coração aberto. Cabe a nós, professores, analizarmos melhor o que este aluno precisa. No mundo de hoje, não cabe mais a postura antiga de professores se colocarem no alto do pódio detentor do conhecimento e sabedoria, desmerecendo aqueles que tem outro tipo de público e por esta razão, outro tipo de demanda.
A verdade é que a tradicional academia de dança de salão se distanciou do público jovem. A prova disto é o preconceito (já de longa data) de que a DS “é coisa de velho”. E o que está sendo feito para se desmistificar isto? Críticas ao novo corpo docente que se esforça para trazer sangue novo ao zouk? Isto não surge efeito, já está provado e comprovado que hoje, o público que mais cresce NÃO é o da academia formal, independente de críticas, ou até mesmo, em se tratando de jovens, PORCAUSA delas.
Isto posto, analizemos o porque deste fato. Porque o que se ensina em bailes ou o que se ensina em academia de ginástica está bem mais próximo do jovem? Não apenas fisicamente próximo, ou metodologicamente, mas em termos de estilo. A verdade é que uma coisa alimentou a outra. Ao passo que jovens entravam para o zouk, eles traziam consigo uma vontade de ouvir novidades, alimentando a criação de novos estilos, o que gerou uma nova necessidade: Ensinar este “novo zouk”, que não podia ser encontrado em academias de DS. Não podia porque elas não cediam espaço aos auto entitulados, novos professores, talvez porque lhes faltasse a técnica necessária, talvez porque lhes faltasse a capacidade formal. Fatos incontestáveis, porém não impeditórios ao ensino informal. Que hoje em dia, se formalizou, quer queiram ou não.
É preciso nos perguntarmos... E o que EU estou fazendo para contribuir com isto?
Luciana Guinle
07 de Março de 2008
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